ESPECIAL
COVID19: A MINHA EXPERIêNCIA A LIDAR COM A SITUAÇÃO
Como uma vez já tinha dito um dia iria escrever
toda a minha experiencia em torno do fenómeno pandémico do covid19, penso ter
chegado o momento pois este será o meu ultimo texto sob titulo de especial
covid19 dado que apesar de ainda haver muito a dizer, já não se justifica
escrever todos os dias para praticamente se dizer o mesmo, este espaço pode
muito bem ser escrito ao sábado em que irei escrever sempre dentro do tema, mas
escrever um texto todos os dias já começa a ser exagerado, alem de que tenho
que despender imenso tempo em torno da escrita e claro assi não tenho tempo
para passar em família, vou portanto descrever todo meu ponto de vista pessoal
em torno deste tema.
Vou começar por dizer que fui
daqueles que de inicio desvalorizou as noticias que davam conta inicialmente de
mais uma doença envolvendo pneumonia vinda da China, eu que já trabalho há mais
de 20 anos no setor da saúde, já vivi situações idênticas envolvendo desde
gripe das aves, á gripe suína, ao ébola etc. etc., e quando ouvi as primeiras
noticias só me lembrei do fiasco em torno do H5N1, em que se viveu uma
autentica paranoia mas que não deu em nada, aliás nós homens depois de
atravessarmos tantos problemas, a ultima coisa que imaginamos é que um vírus de
uma família já bem conhecida seja responsável por um extermínio em massa… mas o
covid19 veio provar que não podemos ter nada como garantido e que somos muito
pequenos no que respeita á natureza, por mais ilusões que tenhamos somos muito básicos
em termos de poderes.
A doença em si como disse não me
preocupou muito, mais ainda pelos números divulgados pela China, que todos
sabemos que hoje são mera fantasia, o que me espantava era pelo facto de os números
divulgados serem ínfimos perante tanta preocupação e fechar tudo em volta das zonas
afetadas… primeiro cidades… depois países, mas a realidade é que só comecei a
tomar atenção quando a doença evoluiu para a europa, não por cá viver e claro
só quando nos chega a agua aos pés é que ficamos preocupados, mas na perspetiva
de que algo de errado estava a acontecer em que os números de um país enorme
como a China não correspondiam ao que estávamos a verificar em países como Itália,
Espanha, França entre outros, em pouco tempo os números da China foram
facilmente ultrapassados pelos países europeus, e foi no dia 11 de março que
fiquei com a real noção da gravidade do problema quando verifiquei num site de estatísticas
e olhei com olhos de ver para os números desse dia, que hoje são anedóticos mas
que na altura me fizeram descer á terra, vi a estatística de Itália e da Espanha
e vi o que aí vinha para Portugal, nesse dia lembro-me de ter chegado a casa
com uma postura bem diferente da que tinha saído, pois vi que á frente dos meus
olhos tudo o que poderíamos dar como garantido estava em causa, desde o
emprego, á capacidade financeira até mesmo á vivencia do nosso dia a dia, tudo
em causa, temi logo pelo emprego da minha mulher… mas também pelo meu pois com
o implodir do emprego da minha mulher eu não poderia nem por nada adoecer ou me
expor ao desconhecido que poderia estar em qualquer lado, é de referir que de
inicio bastava alguém ser suspeito para todo o serviço encerrar por 15 dias e
todos termos que ficar em quarentena.
Como era de esperar a minha
mulher a trabalhar no comercio, foi das primeiras a ter que encerrar os
serviços obviamente que o estado de emergência entretanto decretado a isso
obrigava mas também com o facto das pessoas terem-se confinado inicialmente também
ajudou que com pouca ou nenhuma gente nas ruas manter os negócios abertos era desnecessário,
como previra a nível económico imediato iria sentir problemas, com os dias de antecedência
que previ o descalabro deu pelo menos para minorar os problemas e acertar estratégias,
é de referir que no dia em que a minha mulher veio para casa, não se sabia de
nada se haveria layoff nem tão pouco o apoio dos pais aos filhos na escola em
casa até 12 anos, tive maioritariamente que contar apenas com o meu ordenado ao
fim do mês, e sempre com a consciência de que não poderia adoecer nem por nada
sob pretexto algum aí sim poderia ter que enfrentar dificuldades económicas, o
que felizmente não aconteceu.
Devo confessar que foi muito difícil
os primeiros dias de trabalho em contexto de pandemia e estado de emergência, o
meu colega de trabalho adoeceu e tive que fazer todo o horário durante os 15
dias em que ele esteve de baixa… devo dizer que mentalmente se já andávamos aos
papeis com toda a revolução que estava perante os nossos olhos, para mim mais
isto foi ainda mais difícil, tive que adaptar hábitos e modos de trabalho que
antes me passavam ao lado, mas que passaram a ser obrigatórios, evitar contacto
pessoal e fazer com que as pessoas permanecessem o menor tempo possível no
local que obviamente haveria imensos riscos de contaminação, não foi fácil, os
primeiros dias foram bem complicados, é verdade com o passar dos dias e a
aquisição de novos hábitos reparei que estava mais preparado para lidar com as
coisas do que os que estavam em casa, mesmo mais informados tinham um receio
que para mim já era normalidade… aliás aqui escrevi sobre isso com as varias
realidades que ao longo dos tempos fui verificando, claro que a angustia em
torno do que seria o futuro ao longo dos dias foi piorando, como a economia
iria sobreviver, como sairíamos disto tudo, como poderiam vender a ideia de que
isto tudo iria passar apenas no mês e meio que houve confinamento e que como
todos sabemos era mentira ainda hoje não sabemos quando isto irá passar, tudo duvidas
que todos tínhamos e continuamos ainda a ter.
Neste memento encontro-me em gozo
de ferias e devo dizer que me sentia completamente desgastado pois ainda não
tinha parado, escolhi uma casa de campo para passar uma semana em completo
confinamento, apenas saindo para passeios com a minha mulher mas sem contactos
pessoais extra família, e fui 2 vezes a uma praia fluvial mas sempre em pleno
distanciamento social, confesso que estava nos limites de cansaço nos dias
antes das ferias, estava completamente arrasado, hoje já ultrapassei muito do
medo inicial relativamente á doença, tenho sempre a consciência de que se
tivermos cuidados básicos de higienização e distanciamento social corremos
menos riscos de nós próprios também sermos contaminados, e tenho a consciência de
que isto não vai passar nos próximos tempos e que teremos que ir convivendo
gradualmente com esta situação da melhor maneira possível, esta pandemia veio-nos
mostrar que não estamos a cima de nada e que uma coisa invisível pode colocar
tudo em causa em poucos tempos sem que as pessoas possam fazer o que quer que
seja para contrariar ou seja, não controlamos nada, isto em pleno seculo XXI.
NAKED
MAN