COMO CHEGUEI A PHREAKER
Bem vou tentar descrever o mais minuciosamente e resumidamente possível a minha aventura pelo mundo do PHREAKING que mais não é do que uma forma de hacking (alteração de redes informáticas) mas nas telecomunicações há quem diga que o phreaking é mais primitivo do que o hacking.
A minha historia começa quando muitos outros também o fizeram, quer dizer muita gente que poderá ler estas minhas palavras provavelmente também já foram phreakers sem terem noção disso, ou seja o começo de tudo foi a “falsificar” ou melhor alterar cartões de chamadas telefónicas na altura dos meus 14 anos chamados de “credifone”, muita gente dedicou-se a esta verdadeira arte de adulterar os credifones, que passava por colocar verniz das unhas na barra por onde o aparelho da cabine telefónica iria descontar os períodos (taxação na época que consistia em cobrar impulsos num determinado tempo), claro que este tipo de adulteração não era exacto podendo nuns cartões conseguir-se 7 ou mesmo 25 períodos, outras vezes não se tinha sequer sucesso, e claro aproveitar desta forma os períodos grátis para telefonar de borla para a namorada ou familiares até mesmo para brincadeiras como telefonar anonimamente para quem quiséssemos, foram os tempos áureos de irmos á lista telefónica ver nomes curiosos ou mesmo normais mas de significado dúbio como COELHO e ligarmos para a casa do Sr. Coelho e quando ele vinha ao telefone dizíamos “é o Sr. Coelho? Daqui fala o caçador… PUM PUM está morto!!!” e desligávamos, na altura de putos era uma barrigada de rir, utilizei este estratagema enquanto os credifones não dispunham de chip, com o seu aparecimento esta fraude acabou, mas mesmo assim passei cerca de 6 anos a divertir-me á grande.
Depois desta minha primeira aventura que diga-se de passagem muita gente que está hoje na geração entre os 30 e os 45 anos também participou activamente pois entre colegas na escola a noticia espalhava-se muito depressa, só voltei a prevaricar de uma forma praticamente acidental, já tinha telemóvel e tinha aderido á rede móvel da já extinta TELECEL hoje VODAFONE, portanto era cliente Telecel e tinha a minha vida normal, estávamos nos anos de 1996/1997, e de um momento para o outro passei a receber chamadas de uma zona de Portugal bem distantes da de onde moro, desde números fixos até de telemóveis, quando atendia, ou desligavam ou perguntavam sempre por uma pessoa com nome de mulher, as chamadas ocorriam ás mais variadas horas até de madrugada recebia chamadas, sem nunca perceber o que estava a acontecer, até que um dia estava a ler um jornal diário e nos classificados desse jornal na parte dos convívios que na altura era uma a duas paginas e que por acaso nunca me dava ao trabalho de ler nem ver, bati com os olhos quase que por acaso num numero de telemóvel que me era familiar, era o numero antes do meu de uma menina que atendia homens (a inspiração da criação da corrente de libertação vem deste episodio) numa região que vim a perceber era a zona de onde números fixos me faziam chamadas, fiquei a saber portanto o que me estava a acontecer as chamadas eram para essa menina mas quem marcava enganava-se e marcava o numero a seguir indo parar a mim.
Bem a minha reacção primeiro foi de surpresa depois comecei a pensar que a situação iria de certeza continuar a ocorrer para os meus lados enquanto essa senhora pusesse o anuncio no jornal com o numero antes do meu, e na altura a Telecel permitia aos seus cliente consultarem a sua caixa postal bastando para tal marcar 123 (numero da caixa postal) seguido do seu numero de telemóvel (não necessitava de colocar o indicativo na altura 0931) e através de outros telemóveis conseguia-se de uma maneira gratuita aceder á caixa postal pessoal, bastando apenas para o efeito ter o código de acesso á caixa postal normalmente o PIN (código do cartão), para poder desse modo ter acesso ás mensagens na altura esse serviço tinha sido criado supostamente para que o cliente tivesse sempre acesso ao seu numero mesmo ficando sem bateria dado que os aparelhos na altura eram muito rudimentares e com pouca autonomia, ora esse serviço deu-me uma ideia, dado que na altura tinha muito tempo disponível na minha actividade profissional decidi tentar “minar” essa cliente tentando aceder-lhe á caixa postal do meu telemóvel, dado que o código de acesso geralmente era composto por 4 dígitos pensei que seriam 10000 números que teria que digitar, e dado que tinha tempo de sobra lá me dediquei á “missão” de código a código chegar a entrar na caixa da senhora e tentar alterar a saudação para que com isso ela desistisse desse numero era como a tentar pregar um susto, e assim fiz comecei a digitar 0001… e por aí fora, sempre com a mesma resposta por parte da operadora “código não é valido”, assim fui passando os dias até que chaguei ao código 2500 (só faltavam 7500) e pensei na brincadeira “ainda não experimentei o 0000 (zero, zero, zero, zero) e por brincadeira lá digitei esses quatro números… para minha grande surpresa ouço “NÃO HÁ NOVAS MENSAGENS NA SUA CAIXA POSTAL”… a minha primeira reacção e pensamento era que na realidade tinha entrado na minha caixa postal… mas ao digitar outro numero de telefone ao calhas e colocar o mesmo código (0000) a resposta era a mesma ou seja também tinha entrado, até que digitei um numero de telefone que tinha uma mensagem e depois de a ouvir percebi que tinha descoberto uma “mina de ouro” ou seja descobri que por uma falha de programação a Telecel alem do numero PIN que dava acesso ás caixas postais através de outros telemóveis também permitia esse mesmo acesso com o código 0000 isto em todos os telemóveis, imaginem o que me diverti a ouvir as mensagens de todos os clientes que digitava o numero e o código e que tinham mensagens, claro que passei logo a minha descoberta a amigos meus que também na altura já dispunham de telemóveis da mesma rede, todos os elementos da corrente de libertação foram juntos logo nessa altura.
Se entrar nas caixas postais já era uma descoberta fantástica, uma semana bastou para que eu tivesse descoberto uma ideia ainda mais evoluída, comunicar de borla através de mensagens faladas entre caixas postais, então estava eu a ouvir mensagens o nosso então novíssimo entretém (nem imaginam a barrigada de riso que apanhamos com algumas mensagens) e em alguns números que digitávamos que não existiam ou não tinham caixas postais activas ouvia-se a mensagem “bem vindo ao centro de mensagens da Telecel marque o numero que quer contactar”, algum tempo a ouvir isto e decidi marcar um numero no caso o meu (123******) e … nada “este numero que marcou não é valido”, como o numero que tinha marcado era por exemplo 12395**** que era curiosamente o inicio de o numero de um colega meu marquei o numero dele 1239546** (exemplo) e ouço “a seguir ao sinal envie a sua mensagem para…” e enviei a dita mensagem, e esperei que o meu amigo me dissesse alguma coisa… reparei que como tal a ouvir mensagens não pagávamos nada.
No dia seguinte obtive a resposta que tanto ansiava o meu colega telefonou-me a dizer que nessa noite tinha recebido uma mensagem minha e o que eu queria dizer com aquilo, disse-lhe logo que estávamos perante uma descoberta fantástica, claro que tive que perceber o esquema e percebi que bastava marcar um numero que não existisse ou não tivesse caixa postal que poderia enviar as mensagens de voz á borla para todos os números com a mesma sequencia inicial por exemplo se digitasse 123650000 dava para enviar mensagens para todos os números de telemóvel iniciados por 65 bem como se digitasse o numero 123320000 daria para todos os números 32… e por aí fora.
É de referir que estávamos perante uma situação de poder imensa poderíamos enviar mensagens e ouvir qualquer caixa postal da rede Telecel, o que poderia dizer que poderíamos brincar com a situação ao nosso gosto… daí até á criação da CORRENTE DE LIBERTAÇÃO foi um pequeno passo, com a corrente de libertação como já tive oportunidade de explicar mais aprofundadamente noutra crónica nós usávamos um pretexto de uma seita religiosa para podermos brincar com as pessoas que carinhosamente dávamos o nome de “vitimas”, era o phreaking no seu expoente máximo alem de conseguirmos ludibriar a rede para podermos enviar mensagens á borla também conseguíamos contornar a rede e ouvir caixas postais e com isso fazer escutas.
Com o seguir dos tempos fomos percebendo que não estávamos sozinhos no “universo” e que havia também algumas pessoas que faziam o mesmo uns com meios muito rudimentares como comunicarem através da saudação do seu próprio telemóvel (tinham 20 segundos para dizer qualquer coisa) e alguem que ligasse o seu numero tinha acesso á mensagem da saudação e portanto dava para dar pequenos recados, e percebemos que também havia outros que comunicavam por um sistema idêntico ao nosso mas ao fazermos escutas percebemos que era através de outra forma esta técnica estava imensamente divulgada principalmente em meio académico percebemos graças ás escutas que todos os que comunicavam através desta técnica eram estudantes do ensino superior e seus amigos, nós estávamos mais evoluídos pois também comunicávamos entre nós como também poderíamos nos dedicar á escuta das suas conversas foi o apogeu do phreaking no que a mim me diz respeito, eu era o líder de um grupo que através de mim tinha acesso a um inúmero leque de opções de comunicação e entretenimento (ouvir mensagens), então a técnica principalmente dominada pelos estudantes do ensino superior era idêntica á nossa mas até curiosamente mais fácil bastava para isso fazer o seguinte 1230 e o numero da pessoa que queriam enviar a mensagem não precisava de números nem sequencias tal como eu tinha descoberto bastava colocar o zero logo a seguir ao 123 e era muito mais fácil, esta técnica foi imediatamente adoptada por nós por principalmente ser mais fácil e dado que ao percebermos que não tinham descoberto a nossa, não estarmos a expor-nos ao conhecimento geral ou seja dei ordens para que colocássemos o nosso “sistema”em stand by e usássemos até onde pudéssemos o “sistema” dos alunos do ensino superior… esta técnica teve sucesso até aparecer uma reportagem no extinto jornal “tal&qual” a descrever pormenorizadamente a fraude e claro não demorou muitas horas para a Telecel bloquear essa forma de fazer mensagens, mas nós tínhamos a nossa técnica activa mas deu para perceber que a Telecel a partir dessa altura de certeza que iria investir mais em tentar evitar situações idênticas.
Então passei desde essa altura a tentar novas formas de contornar os esquemas e tentar novos “sistemas” de fazer mensagens de borla, com algum trabalho dei com um numero que era o 125 (informava sobre tarifários na altura) mas ao ouvir a informação se carregássemos na tecla estrela durante a audição ouvíamos logo a mensagem “bem vindo ao centro de mensagens da Telecel marque o numero que quer contactar” mas não dava para enviar mensagens para todos os números só dava para os números começados entre o 970 e 975, mas como dava para aceder a caixas postais e tínhamos o know how já anteriormente adquirido não precisamos de muito tempo para termos as nossas próprias caixas postais de números desactivados comunicando entre nós como se se tratassem das nossas caixas postais oficiais, neste “sistema” durou cerca de 1 ano tendo terminado de um dia para o outro… entretanto eu já tinha descoberto uma outra forma de aceder a mensagens de borla através dos números 1275 e 1276 em que o “sistema” de comunicações era em tudo idêntico ao do 125 mas não necessitando de carregar na tecla estrela bastava marcar os números e digitar o numero da caixa postal, mas neste caso os números que dava acesso eram os começados entre o 755 e 759, o modus operandi que adoptamos foi idêntico ao do 125 tentamos apanhar caixas postais desabitadas entrar nelas e ficar lá alojados é de referir que entretanto o “sistema” inicial permitia fazer o mesmo mas a pagar o serviço que disponibilizavam deixava de ser grátis, mas através dos números 1275 e 1276 tínhamos acesso a tudo de graça na mesma, foi a altura que percebemos que estávamos mesmo sozinhos só nós tínhamos conhecimento para continuar nas mensagens corria então o ano de 1998, o sistema destes números passou á historia em Fevereiro de 1999 dado que em vez de podermos enviar mensagens passaram a ser utilizados para se trocar de tarifário e ter acesso a promoções.
Mas se essa situação acabou de vez com o conceito da corrente de libertação dado que deixamos de poder enviar mensagens anónimas para quem quiséssemos, já não ficamos apeados na vertente de comunicarmos entre nós, um dos elementos da corrente de libertação tinha um telemóvel com caixa postal profissional, no tarifário dele a Telecel permitia ter uma caixa postal com mais capacidade 30 mensagens em vez de 10 na das normais, mas a variante mais inovadora que essa caixa postal permitia era enviar mensagens de borla para outros clientes da Telecel, mas só esse nosso amigo podia fazer as mensagens e nós respondermos a essa mensagem para o próprio, mas entre os outros membros do grupo não havia essa possibilidade, mas ao enviar uma mensagem ao meu colega da caixa postal profissional que voltou para trás descobri que enchendo a caixa postal dele e voltando uma mensagem para trás poderia enviar mensagens a quem quisesse só que o meu numero passava a estar identificado, obviamente que a corrente de libertação passava á historia mas a nossa forma de comunicar não.
Este sistema esteve em vigor até a Telecel entretanto passada a Vodafone disponibilizar um tarifário que permitia todos os membros desse tarifário á ambicionada caixa postal profissional, o que de um modo deixava de ter tanto trabalho a contornar esquemas para termos acesso as mensagens, e assim permaneceu até em 1 de Abril de 2003 em que essas mensagens passaram a ser cobradas portanto desde 1996 até 2003 falei sempre á borla hoje digo que a Vodafone para ter lucro comigo depois de tudo o que fiz terei de viver 5 vidas, o meu saldo no telemóvel tem medias acima de 400 euros devido a nessa época ter poupado milhares devido a que tinha que carregar o telemóvel e não gastava, portanto foram quase 7 anos ininterruptamente a fintar esquemas e a beneficiar de comunicações á borla pelo meio com a brincadeira da corrente de libertação ainda veio o divertimento por acréscimo.
Mas a minha vida de phreaker não morreu com o fim das mensagens de voz de borla, pouco antes de acabarem recebi uma informação de que a Vodafone se estava a preparar para lançar uma nova plataforma de dados o GPRS ou seja uma forma de aceder á Internet bastante rudimentar hoje em dia dado que já há o 3G e o 4G mas na altura uma evolução fantástica, mas para isso teria que ter um telemóvel topo de gama, lá fui á loja comprar um topo de gama da marca líder de mercado e lembro-me de pedir á Sr.ª da loja que queria aquele modelo devido a ter acesso a GPRS e ouvir como resposta “para o que o Sr. quer um telemóvel com GPRS? Não lhe vai servir para nada”, o que é certo é que 1 semana após ter comprado o telemóvel com o GPRS “inútil” segundo a Sr.ª da loja a Vodafone lança uma promoção de 1 ano de Internet móvel de borla para quem dispusesse da plataforma GPRS no telemóvel, como devem imaginar foi um fartote fartei-me de usar a Internet inclusive deixava o telemóvel ligado 24 horas por dia na Internet foi sempre a bombar, 1 ano após voltaram a dar mais 6 meses de borla e tive mais meio ano a beneficiar desta prorrogativa só acessível a uns muito poucos utilizadores, mas ao usar os sites e principalmente em chats para mim um mundo desconhecido até então, descobri que a Vodafone também permitia a quem tivesse a plataforma WAP normal aceder de uma forma grátis á Internet móvel bastava para tal aceder á Internet normal pelo browser do telemóvel através de WAP e os primeiros 30 segundos nunca eram taxados bastava desligar a ligação antes dos 30 segundos e voltar a carregar outra pagina com outra ligação por mais 30 segundos e assim sucessivamente essa benesse passei a beneficiar logo após o fim do GPRS de borla e durou até por volta de 2008 quer com isto dizer que passei 12 anos da minha vida a beneficiar de comunicações á borla, é de referir que legalmente sempre na Internet de borla, já que tanto pela plataforma GPRS como pelos 30 segundos do WAP eram legais pois os 30 segundos até inclusive eram publicitados pela pagina da Vodafone na web mas o que a Vodafone desconhecia era a marosca com o pessoal a aproveitar a benesse para constantemente navegar pela Internet de borla.
Pronto e foi assim a minha vida de phreaker sei que me alonguei um bocadinho mas para explicar as coisas com um mínimo de entendimento só assim, devo ter no curriculum mais de 10000 horas de borla entre todas as plataformas desde as mensagens até á Internet móvel de borla e como já disse terei que viver mais do que 5 vidas para que algum dia a Vodafone tenha um lucro comigo.
NAKED MAN
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