A 3ª IDADE
Estamos perante uma situação que está progressivamente a tornar-se calamitosa que é o facto de como se encara a assistência á 3ª idade, toda a sociedade foi progressivamente sendo instruída para proteger ao longo dos tempos a 1ª idade ou seja as crianças, ao longo dos tempos os velhos foram sendo esquecidos por todos desde políticos até pelos familiares, todas as politicas foram direccionadas totalmente para as crianças foram construídos infantários e outro tipo de equipamentos tudo direccionado para as crianças e para desafogar a vida aos pais dessas mesmas crianças, ao contrario foram-se descurando alternativas para quando a entrada na velhice seja através de centros de dia ou lares da 3ª idade, hoje estamos perante um problema grave que é a solidão e falta de alternativas para quem está na ultima fase da vida.
Perante noticias em que se encontram idosos mortos em casa muitas vezes com anos de morte, choca á partida toda a sociedade mas nada é feito para se evitar esta situação, aos poucos e com o tempo muita gente tem sido sensibilizada com esta situação e só agora se começa a tentar encontrar alternativas para toda esta situação, mas por muito que se tente fazer hoje já nada evita todas as mortes que já ocorreram, fico espantado por ninguém ter estudado toda esta situação e as reacções de surpresa perante o surgimento de noticias que evocam a morte de idosos em suas casa sem sequer os vizinhos se aperceberem, é realmente o fim da linha, no entanto tenho uma leitura da situação muito própria que vou compartilhar.
Tirando casos extremos como o que nos são noticiados nos vários blocos informativos, estamos numa sociedade com um modelo completamente novo, tudo o que era conhecido há gerações está a ser ultrapassado ao longo dos tempos, o que antes se verificava em que as gerações iam-se multiplicando e sucedendo a um ritmo constante ao longo dos tempos o que quero dizer com isto? Muito simples, nas anteriores gerações a regeneração geracional começava muito cedo ou seja os casais normalmente casavam cedo e tinham filhos também muito cedo e o planeamento familiar na altura era praticamente inexistente, ao longo de séculos íamos assistindo a este fenómeno as gerações mais velhas iam sendo “apoiadas” pelas gerações seguintes e assim sucessivamente, ou seja quando havia velhotes na família com 80 ou mais anos tinham já os filhos numa idade de reforma com 60 ou mais anos e por sua vez já com netos de 40 e bisnetos de 20, havia disponibilidade e possibilidade das diferentes gerações se apoiarem mutuamente sem grandes problemas, nesses tempos os lares da 3ª idade praticamente não existiam e os poucos que laboravam ou serviam para apoiarem indigentes ou aceitarem pessoas de condições económicas muito abastadas, a grande maioria dos idosos eram apoiados pela família pois havia essa possibilidade e capacidade, mas hoje isso esta completamente ultrapassado e as condições socioeconómicas alteraram completamente tudo o que se assistiu ao longo de séculos.
Nos últimos 25 anos começamos a assistir a um constante retrocesso na regeneração geracional, as pessoas começavam a constituir família muito mais tarde e a ter filhos ainda mais tarde, o fosso entre gerações passou a abissal ao ponto de haver hoje em dia famílias com idosos de 80 anos com o filho mais velho a ter pouco mais de 40 ou seja em pela vida activa, as condições socioeconómicas foram ao longo destes anos ser ainda mais penalizantes, hoje em dia ter emprego já é de louvar e quem trabalha não se pode dar ao luxo de se despedir para ir tomar conta dos pais pois têm filhos a cargo e os pais já não estão em condições de cuidar deles próprios quanto mais de cuidarem dos netos, como antes se passava em que os mais velhos criavam os netos e muitas vezes chegavam ainda a cuidar de bisnetos e não era rara a vez que ainda chegavam a partilhar a geração com trinetos, hoje em dia as gerações chegarem a bisnetos é uma raridade, portanto como se pode imaginar hoje as condições de vida são completamente diferentes das que eram encontradas anteriormente.
Mas no entanto a geração que está agora na 3ª idade não entende completamente a mudança dos tempos e julga as gerações vindouras como se fossem culpados por tudo o que lhes possa acontecer, desde irem para um lar ou para uma casa de repouso, mas também há casos de abandono muitas vezes motivado pela constante teimosia de quem não quer abandonar a sua casa mesmo não tendo condições humanas para subsistir e poder tomar a responsabilidade anteriormente faziam facilmente, a idade condiciona muita coisa no entanto não têm capacidade para aceitar essas mesma limitações e aceitarem uma alternativa, por muito que isso custe a todos, hoje em dia as condições são completamente diferentes das encontradas antigamente não há hoje regeneração geracional com a mesma cadencia e se antes havia um “fosso” entre gerações de 20 ou menos anos hoje há de 30 ou mais anos, mas sobre isto penso que ainda ninguém reflectiu muito sobre o assunto e cada vez há a tendência para o “fosso” aumentar ainda mais.
Não estou aqui a falar que corremos o risco de extinção da espécie, nada disso, até estamos sobrepovoados para os recursos que dispomos, no entanto há uma grande desproporção de gerações e pior há uma enorme desproporção de meios para cuidar dessas mesmas gerações, há muito que a primeira idade é beneficiada em comparação com a 3ª idade e cada vez mais se começam a ver os resultados dessas mesmas opções politicas ou seja, os casos de abandono por parte dos idosos está intrinsecamente ligado ao facto de não se ter nunca apostado numa rede de cuidados direccionados para a 3ª idade como se fez para a rede de cuidados da 1ª idade e se há muitas alternativas para essa faixa etária para a outra só agora se começa a perceber a verdadeira dimensão da situação e com esta cadencia de noticias de morte entre idosos ainda veio mais colocar a nu essa insuficiência, já vêm tarde todas as medidas que serão tomadas de agora avante pois não vão trazer de volta nenhuma vida entretanto perdida mas pode dignificar a vida de muitos que ainda por cá andam em condições completamente humilhantes, para quem trabalhou uma vida inteira passar os últimos dias a agonizar penso que não será o objectivo para ninguém.
E lembrem-se que os idosos de amanhã somos todos nós hoje.
NAKED MAN
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