PEQUENOS PORMENORES
Provavelmente o facto de trabalhar directamente com um grande numero de pessoas, ou seja atendimento ao publico e contacto com publico, é uma contradição por uma lado é complicado, entre um grande grupo por vezes originam-se conflitos que têm que ser resolvidos com, maior ou menor dificuldade, mas ao mesmo tempo é enriquecedor a nível pessoal.
Se no meio da multidão há pessoas verdadeiramente desprezíveis, outras há que são de valor, é no meio do povo que encontramos as pessoas mais genuínas, entre elas verdadeiros artistas, pessoas que muitas vezes apenas com o ensino primário ou mesmo perfeitamente analfabetas, mas que conseguem fazer coisas verdadeiramente extraordinárias, desde poesia popular até trabalhos de pintura e outro tipo de artesanato, pessoas que fazem as coisas por prazer e genuinamente e não com o intuito de serem agraciadas por fazerem algo como se verdadeiros artistas se tratassem, mas que de facto tornam-se nuns verdadeiros artistas embora de uma forma mais ou menos casual.
Sinto um privilégio enorme quando algumas dessas pessoas se dirigem a mim, e me entregam os seus trabalhos, seja uma simples poesia popular ou mesmo livros, cd’s de musica ou outro tipo de artigo feito pelo próprio, alem do carinho que demonstram nisso apenas nos presenteiam com uma dadiva que muitas vezes vai perdurar para sempre, é uma forma de vida eterna que eles obtêm com esse gesto, de cada vez que sou agraciado com algum “presente” desse género, e que pela casualidade da vida o autor acaba por morrer, em mim fica sempre um pedaço que essa pessoa representou, de vez em quando dou por mim a desfolhar alguns trabalhos de pessoas que já faleceram, para sempre irei guardar esses trabalhos comigo, pois foram dados de uma maneira genuína, apenas com o intuito de apreciarmos, um pequeno passatempo que tinham.
Não me posso deixar de lembrar de um livro que recebi de uma dessas pessoas “anónimas”, que mais não era do que um livro de fotocopias de trabalhos seus durante a vida, era poeta popular, estava lá tudo reunido nesse livro. Meses depois essa pessoa morreu, mas o trabalho dele que por acaso foi uma alegre surpresa, fica para sempre comigo e com outros que a par de mim tiveram o privilegio de ficar com um exemplar. O trabalho desse anónimo podia ser publicado, tinha qualidade para isso, mas o autor apenas queria que outros tivessem, acesso á sua “arte” mas sem motivos económicos, apenas apreciarem o que fez durante uma vida.
Também tenho outros artigos de outros artistas populares, sim a verdadeira arte é esta, é a arte feita pelo prazer de fazer aproveitando a capacidade artística de cada um, vendo bem todos nós temos um dom e há muita gente anónima que nunca vai sair do anonimato mas com muita qualidade para poder sair dele, e que vão transmitindo a pessoas que confiam e que gostam que apreciem o que fazem, tenho em minha posse verdadeiras peças de arte seja escritas seja por via de som, mas trabalhos feitos por pessoas que um dia tive o prazer de conhecer pessoalmente e partilhar varias horas de conversa, quantos autores profissionais temos o prazer de conhecer pessoalmente? Com eles trocar ideias e pensamentos? Eu tive o prazer de muitas vezes falar sobre vários temas e inclusive aprender algumas coisas, podendo não concordar com todos os aspectos e ideias defendidas pelos próprios, sem no entanto deixar de ficar fascinado com pormenores de vida que essas pessoas viveram e experiências que aprenderam, muitas delas retratadas nos seus trabalhos, eu sei do que eles falam nos textos pois muitos explicaram-me pessoalmente o porquê, isso é fantástico.
A verdadeira arte é a que vem da rua, pena nem toda a gente ligar a isso, desprezar tudo o que não seja comercial, ignorando que provavelmente vivem ao lado de um excelente musico, ou cantor, ou poeta ou pintor, há dons que deviam ter mais projecção do que realmente aparentam á primeira vista, pessoas que têm valor seja pessoal seja artístico que nunca se vê reconhecido mas a qualidade está lá, mas a maioria não a vê, apenas dão valor ao que lhes apresentam como de qualidade não buscam essa mesma qualidade.
Devíamos estar mais atentos ao que nos rodeia e que nos está próximo, dar valor ao que nos está frente dos olhos, pois há muita coisa com valor, que não está publicado, e como já disse a verdadeira arte é a arte que é genuína e essa arte apenas encontramo-la na rua muitas vezes até em nossa casa.
NAKED MAN
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